Alega-se no TikTok que beber água morna em jejum, todos os dias, faz com que os nossos órgãos sejam “desintoxicados” e ajuda a queimar “mais gorduras más”. Mas esta alegação tem fundamento científico?

É verdade que beber água morna em jejum potencia a queima de gordura?

Em declarações ao Viral, a diretora clínica da Nutrémia e diretora da Licenciatura de Dietética e Nutrição do ISAVE – Instituto Superior de Saúde, Teresa Campos, adianta que não há fundamento científico para a ideia de que beber água morna em jejum potencia a queima de gordura.

“A ingestão de água em jejum, seja à temperatura ambiente ou tépida, não encontra evidência científica a mostrar a sua relação com a perda de peso e/ou a redução de massa gorda”, sustenta.

A nutricionista acrescenta ainda que “a terminologia ‘desintoxicar’ não tem suporte científico”. 

Tal como explicado noutros artigos do Viral (como este, este e este), não existe nenhum alimento, bebida ou produto natural que, por si só, desintoxique o organismo. 

O corpo humano possui mecanismos próprios de eliminação de toxinas, sendo o fígado e os rins os principais responsáveis por esse processo.

Ainda assim, sublinha Teresa Campos, “a água é, sim, um alimento essencial para o funcionamento do organismo, estando recomendada a sua ingestão diária ao longo do dia”.

A professora do ISAVE lembra que a água “participa nos processos de digestão e absorção nas reações metabólicas pelo que pode ser uma medida que promove uma boa gestão ponderal”, ou seja, na gestão do peso.

Mas como? Em primeiro lugar, explica, “a água não tem calorias, e, na sua composição, só se acrescenta a presença de minerais”. Por isso, “além de não contribuir, por isso, para o aporte energético, pode ajudar a regular melhor a ingestão energética às refeições”.

Além disso, aponta, “a sensação de sede é confundida, muitas vezes, com a sensação de fome”. Logo, a ingestão de água em quantidades adequadas poderá ter “uma relação positiva na gestão do peso corporal”.

Como beber mais água?

Noutro plano, Teresa Campos refere que “sintomas de cansaço geral, falta de concentração e prostração podem significar desidratação”, que, “na sua continuidade, está relacionada com obstipação (“prisão de ventre”), pedras nos rins, problemas em articulações e em várias disfunções celulares”.

Assim sendo, vinca, “uma ingestão de água é, por isso, determinante para a saúde”.

Para quem tem dificuldade em beber água em quantidade suficiente, a nutricionista propõe estratégias que promovam a sua ingestão.

Por exemplo, “a recomendação de cevada (sem cafeína), como bebida, é uma boa forma de hidratação e oferece as propriedades nutricionais das fibras solúveis, vitaminas do complexo B e dos minerais selénio e magnésio”, indica Teresa Campos.

No mesmo plano, “a hidratação através da ingestão de tisanas ou chás acrescentam flavonóides e taninos, polifenóis com sua ação antioxidante”. 

No entanto, assinala a nutricionista, “devemos esclarecer que se deve evitar acompanhar as refeições, sobretudo o almoço e jantar, com fontes de taninos, bem como de aditivos alimentares (alimentos industriais e refrigerantes), café e álcool, porque estes diminuem a capacidade de absorção de vários nutrientes presentes na refeição, nomeadamente de ferro”. 

Em suma, conclui Teresa Campos, “a ingestão de água ao longo do dia é só, por si, uma boa medida, a par de um plano alimentar saudável orientado para as necessidades energéticas e nutricionais da pessoa”, lembrando que, “comportamentalmente, pode ainda promover a prática de outros hábitos de vida que ajudam a gerir melhor o peso corporal, tais como, a prática de exercício físico”.

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